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Novas aventuras em lo-fi #19

Uma coisa engraçada da adolescência é que, apesar de ser possivelmente a época mais rica em transições, revoluções e reviravoltas que qualquer um de nós chega a ter na vida, já que não apenas não temos o controle de muitas das coisas que nos acontecem (quando se tem 16 anos não se pode escolher a casa onde se mora, o colégio onde se estuda, o curso de inglês que se faz ou que fotos suas vão ou não ser exibidas quando as visitas chegam na sua casa) como também estamos num momento de diversas transições pessoais (emos viram grunges, que viram hipsters, que viram metaleiros, que viram pagodeiros, que resolvem mudar o nome pra um símbolo como se fossem o Prince), ela consegue ser ao mesmo tempo a época das decisões mais contundentes, das opiniões mais fortes, das convicções mais firmes. Continuar lendo

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Arquivado em crise de meia meia idade, Músicas e derivados, teorias

Problemas práticos do romantismo teórico – XXII

Eu nunca gostei muito de conviver com ex-namorados de atuais namoradas. Não, não que eu seja do tipo ciumento que nem gosta de ouvir uma garota falar de um ex ou se sente inseguro e passivo-agressivo sempre que assuntos do passado vem à tona – eu posso falar dos meus tempos de colégio militar durante horas mas isso não quer dizer que eu vá sair correndo pra comprar uma boina, por exemplo – e também não é o caso de eu ter qualquer problema com a idéia de uma namorada conviver ou ter uma amizade com um ex-namorado, desde que termos como “colorida”, “recaída”, “eu tinha bebido” ou “com esse cabelo novo ele tava parecendo você” não apareçam subitamente na discussão. Been there, done that, sei que não é bacana.

Na verdade o grande problema com os ex-namorados da sua namorada, e que gira num campo totalmente conceitual e quase nada pessoal, é o de que eles te lembram de um fato desagradável, nada animador e no qual você definitivamente não quer pensar quando está com alguém: o de que você provavelmente também vai ser um ex-namorado, mais cedo ou mais tarde.

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Calculando seu índice pessoal de namorabilidade

Para cada questão deve ser atribuído um valor que vai de 0 a 10, sendo 0 correspondente a resposta “nunca” e 10 correspondente a resposta “sempre”. Se a resposta adequada não for apenas “sempre” e sim “sempre, surtadamente e o tempo todo”, pode ser atribuído o valor 11, enquanto que se a resposta adequada for “mas nem fodendo”, pode ser atribuído o valor “-1”. O teste vale para pessoas de ambos os sexos, mas me deu preguiça de ficar colocando essa coisa de “amigo/a” toda hora.

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Mais outra pequena história romântica

Chegou em casa molhado, a camisa pingando, o sapato pisoteando a barra da calça e a mochila, que estava cheia de livros, aparentando ter sido usada como dublê do Kevin Costner para cenas perigosas em “Waterworld”. Quando começou a tirar a roupa e entrar no quarto notou que a carteira havia sumido e o celular parecia ter bebido mais água do que o recomendado para o modelo e marca dele.O que tornou menor a surpresa com o fato da lâmpada ter apenas piscado e queimado quando ele tentou acendê-la. Tropeçou na cama e ainda teve tempo de, antes de cair no chão, ser atingido pela estante, que, mesmo sem nenhum razão aparente, achou que seria uma boa hora pra cair também. Deitado no chão respirou fundo e começou a acreditar que aquele não era um dia bom.

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Problemas práticos do romantismo teórico – IX

Eu não sei quantos de vocês gostam de “How i met your mother” ou mesmo quantos de vocês sequer conhecem a existência da série (que por sinal é sensacional), mas teve uma cena na 3ª temporada dela que levantou uma questão que é meio bizarra nos dias de hoje: a de que o romance, assim como o açúcar e as bebidas destiladas, é algo com cujas grandes quantidades nós não sabemos lidar no nosso cotidiano. Nós pensamos nisso, talvez as garotas se ressintam da falta disso, mas em termos reais definitivamente não estamos preparados para lidar com certos graus de romantismo. Mas vamos à cena e ao contexto.

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Problemas práticos do romantismo teórico – VIII

Um dos grandes problemas esquemáticos que os envolvimentos românticos sempre apresentaram pra mim é a total e absoluta ausência de qualquer mecanismo de garantia de reciprocidade ou compensação. É aquela coisa, você gostar de alguém não garante que essa pessoa goste de você no mesmo nível, quer dizer, nem mesmo implica que ela goste de você em qualquer nível ou sei lá, reconheça a sua existência no campo legal e moral (“sério, pra mim você não existe. é como…sei lá, eu sou a China e você é Taiwan. eu simplesmente não vou reconhecer a sua existência, sabe?”). Ou seja, basicamente não garante nada, se você for pensar.

Mas com o tempo a gente acaba, é claro, desenvolvendo mecanismos pra lidar com isso, de uma forma ou de outra. As experiências prévias, o amadurecimento, tudo isso acaba te ajudando a aprender a lidar com os diversos níveis de rejeição, tanto no âmbito romântico como em outros níveis interpessoais, profissionais e etc. Pequenas paixonites são resolvidas com horas de vídeo-game; grandes paixões com noites de bar, bebida e bate papo com amigos; amores de verdade com música triste no mp3, filmes da Meg Ryan, relacionamentos-rebote e o já famoso brigadeiro rosa (que simboliza como poucos alimentos o verdadeiro sentido da tristeza e degradação humana), e cada um vai aprendendo seus próprios limites e sua própria forma de lidar com o fato de não ser correspondido de uma forma ou de outra.

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Problemas práticos do romantismo teórico – V

Uma coisa que todo mundo busca num relacionamento é um desafio. Nós fingimos que gostamos das coisas simples, fáceis, que funcionam sem problemas, mas a verdade é que boa parte de nós que superar algum obstáculo, vencer alguma dificuldade, conquistar alguma coisa e ter a sensação que vem disso. Não que todo mundo queira um mundo de impossibilidades e dificuldades totalmente intransponíveis, como se estivéssemos jogando Street Fighter II e o único personagem que pudéssemos escolher fosse o carro da fase de bônus, mas precisamos de um estímulo, de algo diferente, de algo que nos instigue, senão qualquer tipo de envolvimento romântico cai no tédio e aí todo mundo sabe como termina (e se não sabe, pergunte aos meus pais, eles vão adorar falar sobre isso com você)

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Outra pequena história romântica

Ele era do tipo que pensava em um monte de coisas. Um monte. Não conseguia tomar uma decisão sem pensar em opiniões, repercussões, nos problemas, no tempo, nas coisas. Um monte delas. Se sentou e enquanto esperava que ela chegasse pensou nisso, em coisas, em coisas que acabavam vindo a mente enquanto ela não chegava. Imagens icônicas de romance. Músicas dos Beatles. Primeiros e últimos beijos. Relacionamentos. Quadros. Chuva. Pessoas andando sozinhas em bicicletas feitas pra duas. Isso era uma música? O sol se pondo. A cena da declaração de amor no banheiro em Zack and Miri Make a Porno e o conselho do Stan Lee em Mallrats. Ela demorou mais trinta segundos e ele pensou em pátios de colégio, no péssimo rumo das histórias atuais do Hulk, abraços quentes, ninhos de pássaro e em como não tinha curtido a sextape da Paris Hilton. Continuar lendo

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Mais pequenas histórias românticas

Voltando do trabalho de metrô, quase seis da tarde, cansado, mochila nas costas, fones de ouvido no volume máximo, uma música sobre estar esperando por alguém na neve até estar congelado como Walt Disney. Estou eu de pé, meio pendurado, curtindo aquele clima de “rave gospel numa lata de sardinhas” que só o transporte público carioca consegue dar, quando reparo num casal.

Os dois tinham vinte e poucos anos e estavam sentados num banco próximo a mim, ouvindo música juntos, compartilhando os fones de ouvido. Claro, isso por si só já é…sei lá…romântico…(ainda que seu otorrino vá dizer que é pouco higiênico, mas o que otorrinos entendem sobre romance?), mas para eles era pouco. Os dois ainda faziam questão de cantar um pro outro, intercalando beijos com os versos da música, sempre com aquele sorriso de pessoa apaixonada, daqueles que parecem tão grandes que você tem medo que a pessoa engula as próprias orelhas. E durante cinco estações eles ficaram assim, cantando um para o outro, sorrindo e se beijando, até que a garota teve que descer do vagão. Se despediram e ela saiu, caminhou em direção a janela e encostou os lábios no vidro pelo lado de fora, enquanto ele fazia o mesmo pelo lado de dentro (sim, seu médico também dirá que isso não é muito recomendável, ainda mais em tempos de gripe suína e tudo mais). Logo depois disso ela foi embora caminhando saltitante e ele continuou ouvindo música dentro do vagão, sorrindo para o vazio como alguém que tivesse injetado 600 g de açúcar refinado na própria veia.

Vendo aquele casalzinho ali com toda aquela felicidade a primeira coisa em que eu consegui pensar foi em como aquelas duas pessoas conseguiram criar uma pequena bolha em torno delas. Eles estavam ali, juntos, e simplesmente não notavam o resto do mundo, não se incomodavam com nada. O metrô lotado, as pessoas esquisitas travando as portas, o ar-condicionado desregulado, o cara ouvindo pagode no celular como se estivesse num churrasco, a voz metálica assustadora anunciando as estações. Enquanto eles estavam juntos não viam problemas, não sentiam medos, não viam as outras pessoas, não sentiam vergonha de nada que fizessem se fosse um pro outro. Eles tinham, não sei como dizer, a própria bolha pessoal de felicidade.

E estou eu lá ainda olhando meio abobado para o casal  e quase vendo balões em forma de coraçõezinhos quando me viro para o lado e tem uma garota de óculos, mais ou menos da mesma idade que eu, também reparando na cena. Ela nota que estávamos os dois olhando pra mesma direção, dá uma ajeitada na franja  e olhando pra mim, diz com  uma cara irritada e aquele sotaque carioca puxado: “mas cantam mal pra cacete os dois, não? Puta que os pariu…”.

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Romantismo Desperdiçado

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Sempre tive problemas com relacionamentos pessoais de cunho romântico. Sempre. Por uma razão ou outra, por um motivo aqui ou outro ali, por mais que eu me esforçasse as coisas não fluíam. Quer dizer, fluíam por algum tempo, mas depois eu notava que elas não estavam fluindo, eu é que estava tentando manter artificialmente as coisas fluindo apenas pela necessidade de acreditar que elas conseguiriam fluir. E talvez, claro, por alguma necessidade patológica de usar o verbo “fluir” várias vezes, mas vamos falar disso outro dia.

O que conta é que nada “dá certo” e eu sempre pensei em várias razões pra isso. A minha insegurança natural (eu sou tão inseguro que peço licença pra mim mesmo ao entrar no meu quarto vazio), dificuldades de comunicação (“eu disse que era pra passar o pão, não pra matar meu irmão, querida”), diferenças comportamentais/mentais excessivas entre eu e a parceira (“Belinha, você é uma zebra e eu sou humano…nunca daria certo…meus pais tem problemas com listras…”), ou até mesmo o fato de que nada nunca dá certo e eu sou uma pessoa iludida em termos de romance por vários anos de filmes da Meg Ryan na TV.

Até que pensando bem sobre várias coisas, desde relacionamentos prévios até relacionamentos de amigos, colegas, familiares (e vizinhos que discutem alto o bastante pra que eu conheça a vida pessoal deles), eu entendi que o que sempre me faltou (e possivelmente ainda vai me faltar por muito tempo) é compreensão. É alguém que te entende, ou, como diria aquele candidato de Belo Horizonte, “é gente entendendo gente”.

E entender, no sentido que eu falo, é algo complicado. É possível achar alguém que tolere suas diferenças sem entender (“ok, ele tem essa idéia ridícula de que no mundo real alguém pode se tornar Lanterna Verde, mas eu posso suportar isso porque gosto muito dele”), é fácil achar alguém que ignore (“é, ele realmente fala essas coisas estranhas, mas eu posso pensar em outra coisa e fingir que estou ouvindo”) e é fácil até mesmo achar alguém que te conheça (“eu sei como ele está se sentindo e sei como ele vai ficar se eu deixar que ele coma seis bolinhos ana maria”), mas é praticamente impossível achar alguém que te “entenda”.

Entender num sentido completo. Desde conhecer seu background cultural, acompanhar suas referências, entender porque aquela piada é engraçada, porque aquele filme é bom (e mesmo que discorde, saber o porque de você gostar tanto daquela droga). Que entenda as suas razões, seus motivos, suas causas, seus comportamentos, que consiga pensar junto contigo. Que não vá rir quando você contar uma coisa importante pra você, ainda que babaca e nem vá te censurar por causa de uma piada contada num velório com caixão aberto. Alguém que, quando te apoiar, não seja porque apóia qualquer coisa vindo da pessoa de quem gosta ou porque apoiaria até uma tentativa de libertar o Tibet usando um bidê e meio pacote de manteiga, mas porque acredita realmente naquilo que você quer.

E alguém que você entenda, cujos dados você consiga processar. Alguém em quem você note os padrões, alguém que você possa “ler”, uma pessoa cujo comportamento possa fazer sentido pra você, talvez não sempre, mas na maior parte das vezes. Ou pelo menos de vez e quando. Alguém que tenha uma lógica, que você possa apoiar, dar suporte, porque entende o motivo disso.

Entendi que tudo pra mim se resume a isso, em termos de vida pessoal num nível romântico. Compreensão. Estar em algum lugar, olhar nos olhos de alguém e saber que a pessoa está pensando a mesma coisa que eu, mas ela não tem barba e nem serviu ao exército. E saber que tudo não se resume a viver como o Cérebro do desenho animado, que sempre perguntava pro Pinky se os dois estavam pensando a mesma coisa e o mais próximo que conseguia de compreensão era um “sim, mas como vamos fazer Audrey Hepburn montar nua num camelo bebendo coalhada?”.

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