Novos sentimentos desagradáveis na era do romance fluido

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#o paradoxo egoísta da disponibilidade ideal: daí que você quer mais tempo com aquela pessoa. mas você não quer namorar aquela pessoa, claro, porque você não tá pronto pra um relacionamento, você valoriza a sua independência, você vive um momento complicado, qualquer uma dessas coisas que você sabe que são verdade mas um lado seu tem medo que sejam apenas jeitos elaborados de dizer “quero estar disponível se rolar de beijar mais gente na boca”. mas você quer mais tempo com aquela pessoa. mas também não pode ser muito tempo, porque você também tá tentando focar mais no trabalho, você quer se reconectar com seus amigos, você quer ver mais sua família. mas você quer mais tempo com aquela pessoa. mas não pode ser em dia de futebol ou quando tem viagem da galera ou quando você tá cansado e apenas acha melhor ficar em casa. mas você quer mais tempo com aquela pessoa. mas não podem ser atividades que exijam compromisso emocional ou que sejam fora de mão em termos de trânsito e horário ou que venham a dar uma ideia errada das suas intenções e gerem implicações com as quais você não quer lidar. mas você quer mais tempo com aquela pessoa. mas também não quer vivenciar nenhum grau muito elevado de intimidade ainda que você queira em dados momentos realizar atividades que implicariam um grau mais elevado de intimidade. mas você quer mais tempo com aquela pessoa.

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Anotações para um reality show imobiliário passado no Rio de Janeiro

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Seria como aqueles do Discovery Home & Health, com a diferença de que passaria num canal mais alternativo, como a Record, e teria um nome mais trocadilho nacional como “Os Caça-Casas”. O apresentador seria o Bruno de Luca, que teria seu contrato com a Globo rescindido após o lamentável episódio da ofensa ao funcionário do hotel e precisaria arrumar uma maneira de pagar as contas e recuperar sua reputação, operando num modo que varia entre o “IRAAAAADO” hiper-energético e o “ah, tá” quando ele lembrasse que antes andava com o Luciano Huck e o Faustão e agora convive com o Marcos Mion e o Geraldo Luís. Nunca mais foi convidado pra nenhuma festa do Aécio Neves. A galera que fez Malhação com ele não atende mais o telefone. Iran Malfitano vira as costas quando passa por ele na rua. Iran Malfitano, cara.

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3 sugestões para aumentar a emoção no próximo BBB

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# tudo começaria de maneira sutil já na primeira semana. um móvel trocado de posição, uma comida sumindo da geladeira, uma festa anunciada com um tema, realizada com outro, o leifert nega que tenha havido qualquer mudança. na segunda semana começam os sons de martelada durante a noite, as sirenes que tocam em horários aleatórios, um gato preto aparece no confessionário mas desaparece rapidamente. na terceira semana, durante a noite, um participante apenas desaparece do confinamento, sem paredão, eliminação, nenhum aviso prévio. os integrantes da produção agem como se ele nunca tivesse existido, negam que houvesse mais uma pessoa na casa. as paredes são pintadas com cores diferentes no meio da noite, durante a manhã abrem a geladeira e dois corvos saem voando de dentro dela. durante a festa de sábado um bode aparece na piscina. uma semana depois, durante a madrugada, surge uma nova pessoa na casa, alegando ser o participante que sumiu, mas totalmente diferente, por exemplo, sumiu um homem negro alto, surge um homem branco baixinho. ele sabe de tudo que foi dito e conversado antes, porém ele parece esconder um mistério, fala sozinho pelos cantos, está sempre afiando uma faca imaginária. durante o próximo paredão thiago leifert não diz “boa noite” mas sim “viva cthulhu, venham provar seu sacrifício, deuses antigos”. final com paredão triplo. o bode continua na piscina.

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Breves abismos emocionais onde você caiu e seu corpo nunca mais foi encontrado

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#Em primeiro lugar é preciso dizer que a culpa foi sua. Totalmente sua. Ela quis relacionamento e você disse que precisava de espaço, ela quis intimidade e você foi evasivo, ela quis apenas que você pegasse um pouco mais leve mas não dava pra ouvir através do barulho que a betoneira metafórica onde você transportava um hipopótamo metafórico estava metaforicamente fazendo ao passar pela metafórica estrada de chumbo.

E não rolou. De comum acordo, num clima que nem era ruim, como numa conversa entre ex-bbbs onde todos decidiram que iam se dedicar a outros projetos e todo mundo tava muito bem, muito tranquilo. Todo mundo muito seguro da decisão e consciente da racionalidade de que era o melhor rumo a ser tomado diante daquela situação e qualquer empresa de consultoria estrangeira daria o mesmo parecer. Até que você viu ela com outro cara mandando o famoso papinho.

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Pequenas situações que dizem mais sobre a sua vida do que você gostaria

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Daí que você mudou de cidade e precisou arrumar um lugar pra cortar o cabelo.  Você não é de pesquisar, você não é de pedir opinião de conhecido, você só acha uma barbearia no caminho de casa, entra, explica vagamente o corte, o cara corta, aí ele pergunta como é o pezinho, você não sabe como é o pezinho, ele diz que pode ser disfarçado, a ideia de um pezinho que se disfarça de outra coisa parece intrigante, faz pezinho disfarçado então. Você sai da barbearia, o cara se despede de você com um “até a próxima, Guilherme”, você fica confuso, mas não corrige, já tá na porta, nem sabe se vai voltar ali, necessidade nenhuma de corrigir o cara numa besteira dessa.

Claro que no mês seguinte você volta, porque você descobriu uma barbearia, seu cabelo ficou socialmente aceitável, você não vai procurar outra barbearia. Chegando lá o mesmo cara te recebe com um “faaaala, Guilherme!” e você acena de cabeça com um “que?” como uma maneira de sinalizar que você entendeu o gesto mas não as palavras, tentando não precisar corrigir o cara mas não responder diretamente quando chamado de Guilherme, porque esse não é o seu nome, mas você não vai sair corrigindo uma pessoa por causa de uma coisa assim. Guilherme, João, Oswaldo, é tudo nome, tá tudo bem. Continuar lendo

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Mais itens do dicionário pessoal de frustrações na interação social e emocional

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# você não queria ir, mas também não queria dizer que não queria ir. você é um pouco inseguro demais, você tem dificuldade pra falar não, você não gosta de ser assertivo, você ficou ali naquela situação chata, você decidiu inventar uma desculpa. “rapaz, então, não dá porque eu preciso buscar minha mãe na rodoviária”. desculpa envolvendo mãe é sempre desculpa boa, ninguém questiona desculpa envolvendo mãe, sua mãe tem aquela fama de ser meio imprevisível mesmo, é a desculpa de segurança, não tem como não colar. “ah, eu tô de carro, eu te levo lá, a gente busca ela”. você franze a testa porque por essa você não esperava. como assim vai contigo buscar a sua mãe? “ah, mas o ônibus costuma atrasar, tu não vai querer ficar preso lá”. tu sorri porque jogou na boa, jogou na simpatia, reforçou a dificuldade mas sem parecer má vontade, pareceu gentileza, pareceu que tava protegendo.

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Mais 4 sinopses para comédias românticas contemporâneas

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Casal apaixonado mas com várias diferenças de personalidade e temperamento, vive relacionamento longo mas tempestuoso, até que a mocinha recebe uma proposta para trabalhar em outro país. Obrigada a escolher entre o relacionamento e sua carreira, ela parece ter decidido ficar até que mais uma discussão a faz questionar o futuro daquele romance e concluir que talvez o melhor seja mesmo investir nela mesma. Já no saguão do aeroporto, se preparando para o embarque, um apaixonado mocinho invade o local e, carregando uma caixa de som, faz emocionante discurso e promete que se ela ficar tudo vai dar certo, tudo vai ser melhor, tudo vai ser pra sempre. Ela fica. Dois meses depois eles terminam. A oferta de emprego no exterior não apenas foi retirada como, por conta da crise, ela perde o antigo trabalho. Ela odeia o ex-namorado pra sempre. Ele precisou vender a caixa de som e voltou a morar com a mãe no interior de Minas Gerais.

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Vietnã, 1968, visualizada mas não respondida

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justificativas aceitáveis pra que você tenha visualizado aquela mensagem e não respondido: estava ocupado; estava no trânsito; estava tendo um dia ruim; esqueceu; o 3g estava falhando; problemas no aplicativo; estava envolvido em uma partida especificamente competitiva de war e quando começou a digitar alguém gritou SEM CELULAR SEM CELULAR; achou que tinha mandado mas nunca tinha clicado enviar; “puuutz, eu queria responder mas aconteceu um negócio”; não pensou numa boa resposta na hora; estava tentando indicar de maneira sutil que não havia interesse em continuar a conversa sem necessariamente causar o pequeno drama de explicar isso com palavras achando que um gesto vagamente cruel mas direto poderia realizar essa função; “meu cachorro comeu meu celular”; estava com uma certa birra porque ela demorou demais na mensagem anterior.

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Breves soquinhos que a vida dá na sua autoestima enquanto ela está distraída: casos #55 e #56

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a moça hostil do caixa: quase sempre tudo começa com alguém trabalhando muito feliz. é a moça do caixa, é a recepcionista do médico, é a vendedora da loja, é a garçonete do bar. ela atende animada o velhinho que tem cachorro, ela fala que não tem problema nenhum o rapaz ter vindo sem a carteirinha, ela garante que vai achar o tamanho certo do calçado, ela serve o suco de laranja com carinho e ainda oferece chorinho – “bebe rápido que tá transbordando e ainda tem mais aqui na jarra”. você nota que ali tá uma pessoa que tá tendo um dia bacana, que tá feliz de trabalhar, que tira satisfação da sua atividade, que mesmo na dureza do capitalismo ainda rima mais valia com alegria. a fila vai indo, os clientes vão passando, mas a felicidade continua, o ânimo persiste, o clima é de alto astral e parece que nada vai abalar a paz de espírito daquela pessoa no trato com os clientes naquele dia. até, é claro, que chega a sua vez.

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Da mecânica quântica do “você tá meio esquisito”

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poucas frases, na vida da pessoa adulta, são mais aterrorizantes do que o “tô te achando meio esquisito”. claro, existe o pânico clínico de um “os resultados dos exames chegaram”, existe o abismo primordial prático de um “quando terminar isso aí pode passar na minha sala” e existe o nível sádico de tortura emocional de um “preciso conversar uma coisa contigo mais tarde mas agora não posso falar” seguido de seis horas de espera, mas poucas construções tem tanto potencial pra abalar a psique humana da mesma maneira que um “você tá meio estranho hoje, não tá não?”.

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