Arquivo da categoria: é como as coisas são

Anotações para um reality show imobiliário passado no Rio de Janeiro

caça casas

Seria como aqueles do Discovery Home & Health, com a diferença de que passaria num canal mais alternativo, como a Record, e teria um nome mais trocadilho nacional como “Os Caça-Casas”. O apresentador seria o Bruno de Luca, que teria seu contrato com a Globo rescindido após o lamentável episódio da ofensa ao funcionário do hotel e precisaria arrumar uma maneira de pagar as contas e recuperar sua reputação, operando num modo que varia entre o “IRAAAAADO” hiper-energético e o “ah, tá” quando ele lembrasse que antes andava com o Luciano Huck e o Faustão e agora convive com o Marcos Mion e o Geraldo Luís. Nunca mais foi convidado pra nenhuma festa do Aécio Neves. A galera que fez Malhação com ele não atende mais o telefone. Iran Malfitano vira as costas quando passa por ele na rua. Iran Malfitano, cara.

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Breves abismos emocionais onde você caiu e seu corpo nunca mais foi encontrado

grega

#Em primeiro lugar é preciso dizer que a culpa foi sua. Totalmente sua. Ela quis relacionamento e você disse que precisava de espaço, ela quis intimidade e você foi evasivo, ela quis apenas que você pegasse um pouco mais leve mas não dava pra ouvir através do barulho que a betoneira metafórica onde você transportava um hipopótamo metafórico estava metaforicamente fazendo ao passar pela metafórica estrada de chumbo.

E não rolou. De comum acordo, num clima que nem era ruim, como numa conversa entre ex-bbbs onde todos decidiram que iam se dedicar a outros projetos e todo mundo tava muito bem, muito tranquilo. Todo mundo muito seguro da decisão e consciente da racionalidade de que era o melhor rumo a ser tomado diante daquela situação e qualquer empresa de consultoria estrangeira daria o mesmo parecer. Até que você viu ela com outro cara mandando o famoso papinho.

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Pequenas situações que dizem mais sobre a sua vida do que você gostaria

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Daí que você mudou de cidade e precisou arrumar um lugar pra cortar o cabelo.  Você não é de pesquisar, você não é de pedir opinião de conhecido, você só acha uma barbearia no caminho de casa, entra, explica vagamente o corte, o cara corta, aí ele pergunta como é o pezinho, você não sabe como é o pezinho, ele diz que pode ser disfarçado, a ideia de um pezinho que se disfarça de outra coisa parece intrigante, faz pezinho disfarçado então. Você sai da barbearia, o cara se despede de você com um “até a próxima, Guilherme”, você fica confuso, mas não corrige, já tá na porta, nem sabe se vai voltar ali, necessidade nenhuma de corrigir o cara numa besteira dessa.

Claro que no mês seguinte você volta, porque você descobriu uma barbearia, seu cabelo ficou socialmente aceitável, você não vai procurar outra barbearia. Chegando lá o mesmo cara te recebe com um “faaaala, Guilherme!” e você acena de cabeça com um “que?” como uma maneira de sinalizar que você entendeu o gesto mas não as palavras, tentando não precisar corrigir o cara mas não responder diretamente quando chamado de Guilherme, porque esse não é o seu nome, mas você não vai sair corrigindo uma pessoa por causa de uma coisa assim. Guilherme, João, Oswaldo, é tudo nome, tá tudo bem. Continuar lendo

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Mais itens do dicionário pessoal de frustrações na interação social e emocional

bojack

# você não queria ir, mas também não queria dizer que não queria ir. você é um pouco inseguro demais, você tem dificuldade pra falar não, você não gosta de ser assertivo, você ficou ali naquela situação chata, você decidiu inventar uma desculpa. “rapaz, então, não dá porque eu preciso buscar minha mãe na rodoviária”. desculpa envolvendo mãe é sempre desculpa boa, ninguém questiona desculpa envolvendo mãe, sua mãe tem aquela fama de ser meio imprevisível mesmo, é a desculpa de segurança, não tem como não colar. “ah, eu tô de carro, eu te levo lá, a gente busca ela”. você franze a testa porque por essa você não esperava. como assim vai contigo buscar a sua mãe? “ah, mas o ônibus costuma atrasar, tu não vai querer ficar preso lá”. tu sorri porque jogou na boa, jogou na simpatia, reforçou a dificuldade mas sem parecer má vontade, pareceu gentileza, pareceu que tava protegendo.

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Vietnã, 1968, visualizada mas não respondida

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justificativas aceitáveis pra que você tenha visualizado aquela mensagem e não respondido: estava ocupado; estava no trânsito; estava tendo um dia ruim; esqueceu; o 3g estava falhando; problemas no aplicativo; estava envolvido em uma partida especificamente competitiva de war e quando começou a digitar alguém gritou SEM CELULAR SEM CELULAR; achou que tinha mandado mas nunca tinha clicado enviar; “puuutz, eu queria responder mas aconteceu um negócio”; não pensou numa boa resposta na hora; estava tentando indicar de maneira sutil que não havia interesse em continuar a conversa sem necessariamente causar o pequeno drama de explicar isso com palavras achando que um gesto vagamente cruel mas direto poderia realizar essa função; “meu cachorro comeu meu celular”; estava com uma certa birra porque ela demorou demais na mensagem anterior.

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Breves soquinhos que a vida dá na sua autoestima enquanto ela está distraída: casos #55 e #56

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a moça hostil do caixa: quase sempre tudo começa com alguém trabalhando muito feliz. é a moça do caixa, é a recepcionista do médico, é a vendedora da loja, é a garçonete do bar. ela atende animada o velhinho que tem cachorro, ela fala que não tem problema nenhum o rapaz ter vindo sem a carteirinha, ela garante que vai achar o tamanho certo do calçado, ela serve o suco de laranja com carinho e ainda oferece chorinho – “bebe rápido que tá transbordando e ainda tem mais aqui na jarra”. você nota que ali tá uma pessoa que tá tendo um dia bacana, que tá feliz de trabalhar, que tira satisfação da sua atividade, que mesmo na dureza do capitalismo ainda rima mais valia com alegria. a fila vai indo, os clientes vão passando, mas a felicidade continua, o ânimo persiste, o clima é de alto astral e parece que nada vai abalar a paz de espírito daquela pessoa no trato com os clientes naquele dia. até, é claro, que chega a sua vez.

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Da mecânica quântica do “você tá meio esquisito”

normal

poucas frases, na vida da pessoa adulta, são mais aterrorizantes do que o “tô te achando meio esquisito”. claro, existe o pânico clínico de um “os resultados dos exames chegaram”, existe o abismo primordial prático de um “quando terminar isso aí pode passar na minha sala” e existe o nível sádico de tortura emocional de um “preciso conversar uma coisa contigo mais tarde mas agora não posso falar” seguido de seis horas de espera, mas poucas construções tem tanto potencial pra abalar a psique humana da mesma maneira que um “você tá meio estranho hoje, não tá não?”.

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Dois novos referenciais de desconforto profundo na relação com outras pessoas

pivot
o paradigma da carona
: daí que você pediu um favor. não é um grande favor. você não pediu um órgão pra transplante, não pediu pra pessoa cuidar dos seus filhos enquanto vai pra uma guerra, não pediu pra um plebeu que é impresionantemente parecido com você fingir ser rei enquanto você vive como um camponês pra conhecer melhor seus súditos. não, você pediu uma coisa simples. uma carona, um lugar pra dormir durante a noite, uma ajuda pra montar um guarda-roupa. e a pessoa, gente boa, amiga, prestativa, aceitou, claro, eu ajudo, que isso, a gente é bróder, aqui é parceiragem, é parceria + caradagem. e tudo começa bem. a carona chegou na hora, o sofá é bacana, a pessoa trouxe até a própria chave de fenda. você tá agradecido, você tá feliz, você tá fraterno.

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Breve adendo ao dicionário de situações chatas que a gente vive por tabela

todd bojack

sempre acontece de madrugada. você tá ali no intervalo de um filme triste da sandra bullock, na pausa de um momento triste do desenho bojack horseman, no final de uma partida triste do pes 2015 (como são ruins os gráficos do pes 2015, meu deus do céu). tira o celular do bolso casualmente enquanto pega uma água, dá aquela conferida no instagram, passada de olhos no facebook, desiste do whatsapp porque no grupo da pelada ressuscitaram o vídeo em que um peixe pratica sexo oral num cara e você não tá vivendo um momento emocional que te permita assistir essas imagens outra vez. chega no twitter, puxa a barrinha pra baixo, e lá está, aquela cena que é tão clássica pra virada de sexta pra sábado na internet quanto a origem do batman é pra uma hq da dc, quanto o “ganhar da argentina é sempre mais gostoso” está pras eliminatórias sulamericanas: a gatinha pagando de carente na rede social.

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Sobre duas lições aprendidas em um voo da Tam, o pior ser humano do mundo e a webcelebridade Inês Brasil

old plane

lição #1: nunca acredite que ja viu de tudo sobre um certo tema, conceito ou situação.

daí que você viaja bastante de avião. tem namoro à distância, tem viagem de trabalho, tem parente fora, tem férias, graças a deus que tem férias, tem bastante viagem. e daí você acha que já acostumou com aeroporto, já pegou as manhas do avião, já se ligou no mistério no que tange ao transporte aéreo no brasil. só vai pra perto do portão quando o voo tá confirmado, tem malinha do tamanho exato do bagageiro, sabe que a pressão funciona tanto com um funcionário da gol quanto propostas de acordo do prometor funcionam com um integrante da cosa nostra.

ao mesmo tempo, pelo tanto de viagens que já fez, você também começa a achar que já viu tudo de escroto que pode acontecer num aeroporto. o cara tentando entrar no avião com uma pizza pronta, o cidadão fumando na poltrona, a senhora que vomitou do seu lado, mudou de poltrona, você tentou mudar de poltrona, a comissária não deixou, você viajou cheirando vomitinho, o campeão tentando colocar uma prancha de surfe no compartimento de bagagem, o passageiro que incentivava o filho a chutar mais forte a poltrona da senhora da frente. na sua cabeça filhadaputice era cambalhota e você era o cinegrafista do cirque du soleil. não tinha como te impressionar. Continuar lendo

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