Vinde a mim as pistoleiras

Eu nunca entendi direito essa coisa de “relacionamentos por interesse”. Uma das razões é porque literalmente falando o conceito não faz sentido, afinal, ninguém começa um relacionamento sem que haja algum tipo de interesse. A pessoa pode, é claro, despertar interesse por ser bonita, por ser inteligente, por ser engraçada, por ser sensual, por saber imitar o Quagmire do Family Guy, por conseguir construir um forte apache em escala real usando peças de Lego ou mesmo por ter grandes quantias de dinheiro em sua conta bancária, mas isso não altera o conceito de que um relacionamento que comece por qualquer uma dessas razões vai ter começado evidentemente por “interesse”.

Entendido que todo relacionamento, de toda natureza, começa por algum tipo de interesse, vamos falar do tipo de interesse que mais provoca reações negativas e críticas por parte da tradicional família brasileira: o relacionamento por interesse financeiro (ainda que se você chegar em casa com uma garota que imite o Quagmire seus pais podem não te dar o suporte que você gostaria). Por que se critica uma relação em que uma das partes se sentiu atraída pela outra basicamente por causa de uma situação financeira mais favorável? Porque se considera que ali existe uma questão moral relacionada ao fato de que um relacionamento “honesto” deveria surgir baseado em premissas e exigências diferentes destas e que a condição financeira não pode ser o principal critério para a escolha de um parceiro. Mas por que? Afinal, todos nós temos nossos critérios básicos, as premissas essenciais que nos levam a nos interessar por uma pessoa e não por outra, a investir em um relacionamento e não em outro. Você pode considerar indispensável que ela seja muito inteligente, ela pode considerar essencial que você goste de viajar, ele pode considerar condição sine qua non estar com alguém que saiba quais são as capitais de todos os estados norte-americanos. Isso pode ser realmente criticado?

Os critérios são um direito pessoal de cada um, uma forma de projetar e refinar sua busca por “alguém”. Ok, uma garota que quer um cara com dinheiro é uma “pistoleira” e portanto desonesta. Bem, eu não consigo me imaginar com uma garota sem senso de humor, isso me torna, sei lá, “humoristicamente interesseiro”? O fato de você querer ficar com um cara lindo ao invés de um cara feio te tornaria “esteticamente interesseira” então? Ou eu apenas sou um cara que preza pela característica “x”, você uma pessoa que preza pela característica “y” e a “pistoleira” aí de cima alguém que preza pela característica “z”? Mas bem, desses critérios apenas dois são considerados “legais” e o outro não. Afinal, quando você já viu alguém ser criticado por querer ficar com uma pessoa bonita?

Eu faço questão de uma garota engraçada por que? Porque eu acho que uma coisa que vai pesar muito, dentro do meu temperamento e das minhas escolhas de vida, é alguém com a capacidade de entender meu humor e viver no mesmo nível de seriedade que eu (o chamado “nível pré-Bozo”). Você quer um cara que você ache lindo porque preza a atração que você vai sentir por aquela pessoa e porque não quer ter que colocar um saco de mercado na cabeça do seu namorado quando for sair (essas coisas sufocam mesmo, true story) e ela quer um cara com dinheiro porque ela preza a situação financeira e o conforto que isso pode oferecer acima de todos os outros critérios. Mas é com isso e apenas com isso que estamos lidando: critérios. E cada um escolhe seu caminho pra tomar as próprias escolhas baseadas nos próprios critérios.

Estou aqui defendendo as mulheres (e homens) consideradas interesseira(o)s? Não, eu sou romântico demais e ainda não ganho o bastante pra isso, mas apenas acho que uma pessoa deve ter o direito de decidir o que considera essencial numa relação sem que isso resulte necessariamente num julgamento moral, não? Por mais romântico que se seja não se pode culpar alguém por achar que na vida um parceiro que pode oferecer conforto financeiro é mais importante do que um que pode oferecer conforto emocional. Ou isso ou eu estou apenas tentando já me salvaguardar por caso desse lance de musculação funcionar muito bem e eu largar o emprego pra me casar com uma velhinha rica.

P.S: Este texto é apenas uma teorização sobre o tema, não representando a opinião do autor sobre o assunto em questão.

P.P.S: O autor gosta de falar de si mesmo na terceira pessoa.

7 Comentários

Arquivado em Crônicas

7 Respostas para “Vinde a mim as pistoleiras

  1. ThiagoFC

    Você fez bem em explicar, entre as tags, que isso é uma piada, e nao sua opinião. Caso contrário, mais gente poderia engrossar seu anti-fã-clube, que já conta com todos os membros da Associação de Gagos de Cataguases.

  2. Suzana Vieira feelings… Suzana Vieira feelings…

  3. Prezado Jõaozeiras, son of Big Peixoto

    Espero que as estagiárias da gerencia de materiais não estejam mexendo (muito) com a sua cabeça no parco tempo de folga que lhe resta no trabalho. Entretanto considero fundamental tecer certas considerações acerca da ontologia dos relacionamentos dissertada pela sua conceituada figura.
    Vivemos (pelo menos eu vivo, sempre que estou prestando atenção o suficiente) em uma sociedade baseada na repressão de instintos básicos em prol da convivência “harmônica”. Essa acertiva Freudiana, somada a uma série de corolários hollywoodianos, nos assegura que: está tudo bem em desejar algo no outro, desde que o outro deseje a mesma coisa de você.
    O amor seria isso, um desejo de que o outro o deseje, desejo este que não se contenta com nada menos do que isso, até porque deu um trabalhão sublimar uma série de vontades de participar de orgias públicas para depois a outra pessoa dizer algo como “came here for the beer”. Aí a gente diz que isso dói, machuca, e é feio, e é mal. Uma série de conceitos religiosos que terminariam dizendo coisas semelhantes.
    Então, tendemos a só considerar justo pessoas que estão ali num relacionamento, não sem interesse, mas pelos mesmos interesses, ou interesses que se completem mutuamente. Estendendo o conceito, isso valeria até para o cara que vai até as difamadas casas de baixa estirpe colecionar afeto feminino, pagando módicas quantias.
    Mas porque não fazemos isso e porque um relacionamento por interesse (financeiro de uma das partes) assombra a grande maioria? Se fosse considerado normal e bem quisto, todos os outros teriam problemas em explicar seus próprios sentimentos sem recorrerem aos argumentos que você tão firme e solidamente utilizou. Estaríamos cientes de um conjunto de variáveis que tornariam o simples fato de chamar uma garota pela primeira vez ao cinema uma tarefa homérica de pensamento conceitual. Em resumo, se assim o fosse, foderia o barato de todo o resto da galera.

    Agora, se me dê licença, preciso pegar um vôo para o Rio.

  4. João Baldi Jr.

    Pô, Alysson, gostei da análise! Bom ver uma resposta de um psicólogo para a minha análise totalmente amadora do conceito. Continue aparecendo por aqui, cara!

    (“João Luis: desde 1984 fodendo conceitualmente o barato do resto da galera”.)

  5. hm, pelo visto vc conhece o alysson. Ele é namorado de uma amiga e colega jornalista, a ana flávia. Uma das moças do blog essamoçatadiferente.
    Aproveitando que as mulheres têm critérios altíssimo de seleção – o que inclui renda e tudo mais, eu tb coloco meus critérios lá encima. Afinal, como vc disse, há que haver critérios. Não abro mão de uma menina que tenha um bumbum bonito e que seja fluente em alguma vertente de gaulês antigo, mesmo que seja o irlandes.

  6. Rodrigo!

    Caray, perfeito J.! Vou roubar e colocar no meu blog (com os devidos créditos, é claro) Perdeu, playboy!

Deixe um comentário